sábado, 1 de maio de 2010

Crónica Altitude (27 de Abril 2010)

Entrei pela primeira vez no site Pordata.pt, a base de dados do Portugal contemporâneo cujo responsável é o sociólogo António Barreto. É uma ferramenta de grande utilidade para investigadores ou simples curiosos como é o caso.
Olhei para os números da população e os índices que nos são apresentados. O índice de envelhecimento em 2001 era de 102,2%; em 1960 era de 27%. A menos que algo tenha mudado nestes 9 anos estamos mais velhos. Em 2003 tinham saído do país 27000 pessoas, valores ainda longe dos 120000 emigrantes da década de 60. No dia em que consultei o site tinha havido mais 6 óbitos que nascimentos (tendência confirmada em 2010 com um saldo negativo de 700 indivíduos).
Penso em muitas aldeias do nosso concelho. Preocupa-me que aldeias que no passado tiveram mais de 1000 habitantes tenham hoje um quinto dessa população. Preocupa-me ainda mais que este já sintomático valor não seja estável e continue a descer. Daqui por umas décadas, se não se inverter a tendência, existirão aldeias fantasma no nosso concelho. Aldeias onde só haverá pedras; onde os monumentos deixarão de o ser por não haver quem cuide deles.
Precisamos de um novo repovoamento. De uma nova centralidade. De riqueza.
Em finais do século XIX, quando o comboio chegou, muitos enriqueceram no transporte das pedras nos carros de bois. A agricultura deu trabalho a muita gente. Por todo o lado havia artesãos que vendiam os seus produtos nos mercados. Depois foi o contrabando e a emigração.
Hoje é preciso re-inventar as nossas aldeias. Valorizar os seus recursos. Atrair pessoas.
Compreender o passado para enfrentar o futuro.
Dizia há dias na rádio um escritor colombiano:
"A imaginação e a memória são a mesma coisa." E acrescentava: "A imaginação não é mais do que má memória".


Crónica transmitida na Rádio Altitude no dia 27 de Abril de 2010 e disponível aqui




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