terça-feira, 30 de março de 2010

Crónica Altitude (30 de Março 2010)

Quando no meu último apontamento reflectia sobre um novo modelo de desenvolvimento para a Guarda lembrei-me do Dr. Alberto Diniz da Fonseca, meu conterrâneo.
Foi presidente de Câmara entre 1947 e 1953. Bairrista e visionário, tinha um plano de desenvolvimento para a Guarda.
- Expandiu a cidade para os lados da Estação;
- Devolveu à Guarda a sua memória histórica;
- Promoveu o turismo;
- Levou a electricidade às aldeias do concelho;
- Defendeu a existência de uma grande região - a Beira Serra, tendo a Guarda como capital.
Ainda não lhe foi feita a homenagem devida.
Poeta, dramaturgo, jornalista (como escreveu o professor Pinharanda Gomes a respeito de um grande amigo meu "escritor não é o que se publica; é o Eu criado pela escrita, inédito ele seja").
Tem obra dispersa em jornais, revistas e sobretudo na memória dos que o conheceram. Deveria estar coligida e servir de manual de exemplo dos verdadeiros amantes da Guarda e distribuída aos visitantes que demonstrassem abertura de espírito.
"São Francisco de Assis esteve na Beira-Serra"
"Foi na Guarda que nasceu o Império Romano"
"Até o Anjo é da Guarda!"
Fruto da imaginação do Dr. Alberto estes são alguns exemplos de como a criatividade, a loucura, o gosto pode fazer muito pela auto-estima de uma cidade.
E se na Guarda do século XXI juntássemos a estes slogans ilustrações de artistas contemporâneos... Poder-se-ia imaginar melhores cartazes de promoção à cidade do que estes?

Crónica transmitida na Rádio Altitude no dia 30 de Março de 2010 e disponível aqui

terça-feira, 16 de março de 2010

Crónica Altitude (16 de Março 2010)

Volto ao Noéme. Em dias de Inverno como há muito não se via, vejo o Rio. Da ponte, vejo um enorme curso de águas bravas. Belo e ao mesmo tempo triste. E não é do cinzento do céu.
Se há vinte anos se podia alegar desconhecimento e falta de capacidades para que se destruísse o Rio hoje já não faz sentido.
Os poluidores de hoje não sentirão vergonha quando vêem as imagens do crime?
Dormirão descansados?
Julgar-se-ão acima da lei e da moral?
É preciso dizer a esses senhores que o modelo de desenvolvimento que nos oferecem não nos interessa.
Mas para isso, o poder eleito tem de ter um modelo novo, um plano alternativo, ou como hoje se diz uma estratégia. Uma estratégia em que os recursos naturais sejam respeitados e valorizados; em que a memória seja entendida como fonte de riqueza; em que a cultura seja alavanca de desenvolvimento.
Não se consegue vender a imagem de um concelho moderno e verde existindo um rio continuadamente poluído. É incoerente e afasta investidores que não se revêem nestas práticas. As fábricas fecham ou mudam de localização ao sabor dos interesses do capital. 
Só os rios, as florestas - a Memória! poderemos deixar aos que vierem depois de nós. Ao menos que se orgulhem daquilo que lhes deixarmos.

Crónica transmitida na Rádio Altitude no dia 16 de Março e disponível aqui

terça-feira, 2 de março de 2010

Crónica Altitude (02 de Março 2010)

Na balbúrdia em que se encontra o Portugal contemporâneo volto aos clássicos em busca de respostas.
"É possível que os nossos governantes se vejam obrigados a usar largamente a mentira e o engano para o bem dos governados", leio.
Mais adiante: "Se fosse necessário decidir qual destas virtudes é a que pela sua presença contribui em maior dose para a perfeição da Cidade, seria difícil dizer se é a conformidade de opinião entre os governantes e os governados".
Sobre a qualidade dos eleitos vejo o seguinte: "Passarão a maior parte do seu tempo estudando a Filosofia e quando chegar a sua vez suportarão trabalhar nas tarefas do governo por amor à Cidade pois que verão nisso não uma ocupação nobre mas um dever indispensável".
Pouso o livro, "A República" de Platão e penso no que hoje se passa. Mentiras, histórias de moral duvidosa, propaganda - tudo a bem da causa pública suponho eu. Pelo menos assim explicava Sócrates nas passagens citadas. Infelizmente este Sócrates não é o nosso engenheiro. Mas também a Cidade de que fala não é a nossa República.

Crónica transmitida no dia 02 de Março de 2010 e disponível aqui

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Crónica Altitude (16 Fev 2010)

"Eu sou eu mais a minha circunstância"
De forma erudita, Ortega y Gasset diz que a nossa personalidade é moldada pelo ambiente que nos rodeia. Físico, social, cultural... "O meio em que fomos criados", sintetiza o poeta António Aleixo.
Atenas, mãe da Democracia, orgulhava-se da liberdade que dava aos seus cidadãos. Estes participavam de pleno direito do governo da Polis. A Ética era o pilar fundamental da sociedade e das instituições cívicas.
Tão distantes estamos desses tempos. Próximos de Atenas só nas finanças públicas. Meio e circunstância favorecem entre nós o governo dos medíocres e da negociata fácil. Meio e circunstância impõem o medo. Medo de falar, medo de pensar, medo de ser inconveniente. Julgavam-se passados os tempos em que o poder judicial tentava calar jornais.
Demitimo-nos de intervir.
Quando este apontamento for transmitido já terá sido julgado e morto o galo na Praça Velha.
O galo dos nossos males.
Por uma noite o povo ter-se-à solto do jugo que carrega.

Crónica transmitida no dia 16 de Fevereiro de 2010 e disponível aqui

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Crónica Altitude (02 Fev 2010)

Tenho em mãos o livro "País (in)sustentável". Página após página apresenta-nos um feio retrato do ambiente no nosso país.
Onde fala em rios, vejo o Noéme;
Onde fala em autarcas, penso nos de cá, sobretudo aqueles que deixaram que isso acontecesse;
Onde fala em políticas ambientais questiono porque ainda está poluído.
Há 20 anos vivia-se, (e cito), no regime medieval do "lá vai água". Fosse doméstica ou industrial.
A CEE tinha vergonha de um país que assim procedia e mandou fundos comunitários. Hoje, 20 anos depois, e alguns milhões gastos na limpeza das águas já não deveria ser assim.
Retenho outra muito adequada expressão usada no livro: "penico colectivo". O Noéme tem sido o bacio de alguns. Ainda assim, os velhos bacios de esmalte que se usavam antigamente eram despejados e limpos. O Noéme nem isso.


Crónica transmitida no dia 02 de Fevereiro de 2010 e disponível aqui